quarta-feira, 24 de setembro de 2008

PoSoLoGiA

Eu gosto do que PARA MIM, é inevitavelmente gostável
Não gosto porque me gostam,
Não sei montar paisagem,
Criar mundo.
Se páro ou sigo é o que eu posso
E se faço é porque gosto.
Não sou Cazuza:
Não gosto de amor inventado
Nem por carência, nem por distração.
Não gosto de disfarces pra o mundo me olhar
Nem de nada que é pra bonito
Se o que eu tenho é riso ou choro
O que eu te der vai ser puro, sempre.
Não gosto de trabalhar sentimentos,
De ver dor no que era belo,
De ver mágoa no que era amor
Fica sempre o que foi bonito
E o resto eu deixo na janela pro vento levar
Não importa em quantas viagens,
Não importa em quanto tempo.
Eu gosto do que é paixão
Do que é aberto e livre
Não gosto do vacilo,
Vacilo é raciocínio
E no raciocínio não há paixão.
Não gosto de frestas de portas,
De pé por pé...
Eu gosto do que toma conta,
Do que é invasivo, viciante...
Do que é entrega.
Gosto do que me tem não mão
E "migalhas dormidas do teu pão",
Obrigado, NÃO!

terça-feira, 16 de setembro de 2008

FRACASSO INFALÍVEL


Abra sua porta e entregue primeiro seu corpo ao descaso do mundo, abandone-se.
Meio caminho andado.
Em seguida, atire seus sonhos um a um ao vento e sinta-os sair de suas mãos.
Sinta medo, seus maiores medos. Encha-se deles e deixe-se vencer.
Não lute, afinal, o que é nossa dor para o restante do mundo?
Gritamos em uma sala vazia, onde os gritos ecoam e tornam-se insuportavelmente altos
Apenas para nós.
Resmungue apenas.
Não satisfeito com a dor, ainda precisa que o lembrem como aquele que não soube viver o mundo?
Contente-se, contenha-se.
Pois o que é a vida senão a segurança das coisas efêmeras, construídas, impregnadas à perecível matéria?
Morra, dia após dia. Vivo mesmo.
E renascendo, torne a morrer porque a vida é breve mesmo como essa brisa que seca as roupas no varal.
Compareça ao seu velório, se possível. Apresente-se à amiga Morte e veja-se por entre flores, velando seu corpo.
Mas não chore, não minta...
Não queira mais a si mesmo; jogue-se fora.
Depois, junte-se e dê-se de presente ao seu maior inimigo
Para que ele jamais tenha paz de você.
Entregue-se a um amor fracassado,
Desapareça em meio à sua sombra,
Respire dele o mais fundo que puder;
Iluda-se.
Escreva em linhas tortas e letras feias
A sua história mais vergonhosa,
Engasgue-se com seu veneno
Com o fogo inda não cuspido,
Com o escrárnio inda não dido.
Prostitua teu coração ali na esquina
Dê ou venda-o, já que lhe pertence
E fede e arde das paixões que matas e guardas.

Atire-se do abismo mais alto e deixe seu peito - aberto - ir rasgando-se inteiro.
Caia
E não se levante até o coice derradeiro.

[velharia: eu ainda era menor de idade quando escrevi]

domingo, 14 de setembro de 2008

"Se por acaso eu morrer do coração
É sinal que amei demais
Mas enquanto estou viva
Cheia de graça
Talvez ainda faça
Um monte de gente feliz."

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Caio Fernando de Abreu

"Chorar por tudo que se perdeu, por tudo que apenas ameaçou e não chegou a ser, pelo que perdi de mim, pelo ontem morto, pelo hoje sujo, pelo amanhã que não existe, pelo muito que amei e não me amaram, pelo que tentei ser correto e não foram comigo. Meu coração sangra com uma dor que não consigo comunicar a ninguém, recuso todos os toques e ignoro todas tentativas de aproximação. Tenho vergonha de gritar que esta dor é só minha, de pedir que me deixem em paz e só com ela, como um cão com seu osso. A única magia que existe é estarmos vivos e não entendermos nada disso. A única magia que existe é a nossa incompreensão."