domingo, 22 de abril de 2007

Poema ao amigo

O André é o André dos passos soltos,
Dos olhos pretos rasos,
Do Lobão mais do que "bão",
Do vinho,
Do violão
E do verso
Como uma afronta para o mundo
Mas nós ligamos para o mundo...?
O mundo é um grande boteco:
Uns entram e saem,
Outros entram e se divertem,
Outros saem atordoados com tudo,
Outros simplesmente não saem mais...
Acende teu cigarro e observa:
Nossas bocas estão roxas
E nossas mentes fervilham
Como a sopa da vovó.
Escuta aquela nossa velha bossa-nova
E vamos nessa, vamos de mãos dadas,
Mergulhando nessa piscina de loucuras
Sem prender respiração.
Mil perdões se não te agrado
No completo, no real;
Se não ligo para o teu problema de plástico
Depois de ter visto que a vida é um fiapo
Sobre o qual bincamos de corda-bamba.
Desculpa pelas verdades enrustidas,
Por ter escolhido a verdade de mim mesma.
Desculpa se não sei desculpar,
Se não sei disputar,
Nem acreditar no que me dizes.
Desculpa pela minha falta de jeito,
Pelos maus modos,
Por te tratar feito objeto,
Feito objeto que já fui...
Desculpa pelo meu encarar a vida,
Se meu sorriso te afronta ou te causa dúvida;
A dúvida é a ausência do óbvio,
O que já me agrada.
Perdoa-me por não sermos do mesmo mundo,
Por meus sonhos serem os MEUS.
Desculpa ser o que sou
E se não rimo com o que falas,
Se não combino com tua sala,
Se destôo no meio das tuas flores.
Desculpa se não sei mais amar,
Ou se não quero.
Desculpa se grito,
Ou se preciso da embriaguês para brilhar às vezes...
Desculpa se te (me) engano ou assusto,
É que não sei ser outra coisa agora
E não posso deixar de ser todas essas que me batem à porta.
Desculpa escorregar por entre teus dedos,
Desculpa se só faço fugir.
Desculpa, me solta.

Madame Bovary sou eu

"Acostumada aos aspectos serenos, voltava-se, pelo contrário, para os acidentados. Não gostava do mar senão pelas suas tempestades e da relva unicamente quando era alternada com ruínas. Sentia uma necessidade de poder tirar das coisas uma espécie de proveito próprio, e repelir como inútil tudo que não contribuísse para a alegria imediata do coração, porque tinha um temperamento mais sentimental que artístico, procurando emoções e não paisagens." (FLAUBERT, Madame Bovary)