sábado, 25 de julho de 2009

Estrada da Santos. Ou não.


"Se você...pretende"
Elis me avisa no ouvido como se fosse hora para isso. É cedo e levo o sono da humanidade toda comigo. A música é do Rei, eu sei. Mas as coisas são o que estão e se fosse para colocar todos os pingos nos is, não me sentiria na estrada de santos aqui.

"Você -vai - me - conhecer"
Ela me convida assim, em tom de ameaça. Viajo junto.
A necesidade do estrelato que todos nós temos. De sermos enigma, mistério. De tornarmos complexo esse universo simples que nos cerca. Simples como cheiro de pão.
É como oferecer salva-vidas ao visitante, quando o estamos convidando apenas para o raso do oceano, de nados curtos, curtas braçadas.

"Só a velocidade anda juuuuunto a mim"
Que horas são agora? Há pouco acordei, num salto. Meu rosto fantasmagórico, convidando a todos para um novo sono, o sono dos viajantes.
A fome de volta de guerra, a sede de outros carnavais, mas uma vaidade teimosa me sustenta.
O dia nasceu. Tenho o dia em meus braços, é o filho que embalo. E cá estou: de volta ao mundo. Passageira. E "o tempo é cada veeeez menor."

"Maaaas se acaso numa curva..."
Curvas, curvas, curvas...quase não há. Vejo a sinuosidade mais fictícia que real. Me seguro e é o mesmo susto de acordar. Acordo de novo. Agora, para o difíil do trajeto.

"Corrijo num segundo, não posso pa-rar"
Um instante de loucura e mostro o que sou de fato. Me viro do avesso, é uma confissão.
A lucidez me atrapalha, é um excesso de clareza nos olhos. A cabeça dói, mas a coerência vai bem, obrigada.
A quem possa importar, a confusão inda vai longe. E na economia de explicações, lambo meus beiços, satisfeita.

"E vi pelo es-pe-lho, na distância se perdeeeeeeer"
Passado. Fantasmas. Bem ou mal resolvidos. As existências incômodas, são ecos na multidão.
Passado: faço-me rir com o canto da boca e me digo de novo a palavra PASSADO.
Conto nos dedos o que for possível, crio referências, comparo momentos, relembro histórias. A meu gosto.
O passado está no todo, comigo.

"Aaaaaas curvas se acabam e na Estrada de Santos eu não vou mais passaaaar"
Dependendo do meu passo, claro.
O presente me vem como alimento. Mastigo cada pedaço devagar. Tento não engolir.
O presente é um embrulho com laço de fita. Vou abrindo aos poucos, para meu deleite e surpresa.
Mas será mesmo que "as curvas se acabam"? Será, hein...?
Será mesmo que eu "não vou mais passar"???