domingo, 27 de maio de 2007

Chamam-me de original e não vêem que o que tenho é um enorme cansaço
E que sou toda enjôo de tanta influência de TV,
De tanto braço gasto em tanque, tanta coisa velha por fazer.
Vou dando ré e meu medo de até onde posso voltar
Me dá a ânsia que paralisa;
Aqui onde estou é o aglomerado de onde não posso estar
E me chamas de feliz...
Ora, não julgues meu riso segundo teus resmungos,
Nada sabes nem de saberás a meu respeito de fato
E achares que sabes tudo de ti e arredores é pecar.
Sigo rastros de silêncio já que da canção não faço parte;
Dispenso conversas inúteis,
Pessoas-enfeite,
Amores carentes.
Estou exausta desse mundo contextualizado,
Limitado, inventado
Por essas almas que inventam paixões por pena de si próprias.
Sou sem amor, mas diga-me:
O que é amor pra ti???
É como escolher uma roupa para vestir?
Que sirva, que combine, que identifique e não sufoque?
E é a mim que chamas de triste...
Triste é esse quadro que eu vejo,
Essas mentes doentes querendo me colocar
Em algum lugar na "tabela do certo & errado"
Porque não podem me ver assim, saltitando nas linhas...

quinta-feira, 17 de maio de 2007

" Um Sopro de Vida"

" O resultado fatal de eu viver é o ato de escrever. Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim."

(Clarice Lispector)

Preguiça

Grandessíssima preguiça de escrever, ou será medo da nudez?
Não sei. Coisas se movem aqui dentro e o instante parece curto demais, vago demais e absurdamente veloz. Calo como se buscasse solução para a inquietação. Evito a análise, pareço não estar parecendo; chamo atenção. Não quero. Quero estar a sós e me permitir ficar atônita com tudo.
Deixa? Deixo. Deixo de lado as besteiras que pensava pensar. Seco tempestades. Talvez venha daí a preguiça. Do inundar-se para nada.
Para nada? Qual a distância entre o meu nada e o tudo do todo?
Ah, inquietações... É tudo tão simples. É noite.
A espera do ônibus, as conversas, o sono. Tudo isso é a noite. Eu existindo é a noite.
Ausência de porquês, de poréns. E tudo é simplesmente a noite trazendo com ela essa alma querendo conversa de bar a essa hora!

domingo, 6 de maio de 2007

Olhos abertos

Palavras que não são minhas, mas tomo-as como se fossem:

"Vendo os olhares desertos de tantas pessoas antigas
Tantas pessoas amigas querendo um cigarro e um carinho
Gente que puxa uma briga na estrada com os olhos brilhando
Precisa só de um abraço, bem forte, bem dado

E eu quero encontrar as pessoas
De mãos e de olhos abertos
Sem me preocupar com dinheiro e posição

Eu preciso encontrar as pessoas
Ficar de mãos dadas com elas
Conversar com a boca dos olhos e os olhos do coração."

"Olhos abertos" (Zé Rodrix/Guttenberg Guarabyra. Interpretação de Elis Regina)
Chuveiro quente,
Pensar vazio.
Andar por essa casa é como a espera na estação;
Viver essa vida é como estar empoeirada em uma estante;
Estar aqui, inteira, é uma traição,
Mas a quem estou traindo?
Eu quero cair fora dessa pele,
Dessa casa,
Desse cargo,
Desse espaço,
Dessa rua.
Que vão-se os anéis e os dedos,
Se novos tiver.
Quero todos os renascimentos,
Todos os recomeços
E não quero mais esse nome,
Essa casca.
Lê-me, tira-me dessa estante;
Leva-me para perto da desordem do que é vida.

terça-feira, 1 de maio de 2007

Paixão

Um correr de olhos ansioso,
Um riso de alívio, de nervoso.
Choro atravessado na garganta, engasgo.
Paixão.
Um ruído qualquer denuncia a presença.
O bater da porta me engana, ela não se foi.
Ela está ali, como uma afronta,
Como um vício.
Querendo vingança, ou querendo mais.
Recusa-se ao retiro,
Como velha inquilina que é;
Não aceita o equilíbrio,
Nem se refugia, faz frente.
Não nega a si mesma,
Vacila, tem picos,
Culpa da saudade,
Essa "leva e trás" dos infernos...
Rasgando meu peito,
Envenenando o que é bom em mim.

Mão no interruptor,
Insônia.
Caminho sem volta,
Eu, objeto da tua ação.
De cara no abismo,
Entregue.