terça-feira, 18 de agosto de 2009

É. Talvez ele ainda quisesse contar com a presença dela. A idéia de tê-la ali era como o segundo lugar no podium de chegada: melhor do que nada.
Talvez ele ainda se perguntasse onde ela enfiou todo aquele amor aflito, briguento e aonde foram passear suas pernas desesperadas. Em que peito repousava sua mão e quantas vezes na semana. Não podia supor.
O certo é que ele tinha alguma gratidão por ela. Ele precisava do drama, dificultava tudo, tropeçava no liso e ela cumpria como ninguém o seu papel naquele misto de novela mexicana e terapia de casal. Ela dançava conforme a música, chorava por encomenda para fazê-lo sentir vivo.
Ele sabe que ela sempre o entendeu, mas ele precisa de sombra e ela o perturba. Ela é uma janela aberta, luz demais.
Ele mandaria colocar nuvens no céu, se preciso fosse, a alegria azul não lhe caía bem, era preciso nublar, mover, chover...

Ele não sabia o que ela esperava, nem sabia porque ela ficava e porque dormia e porque acordava e porque às quatro da manhã ele ainda estava dentro dela, mas tudo bem, ela não o mandava sair, nunca mandaria. Ele tinha um metro e muito de um corpo que gostava ali todo para ele e negar não era o seu forte.
E assim ele exercia aquele papel de romeu de mentira, desgarrado, sem vontade e sem nenhum amor para dar.
Ele não sabia o que havia ali, claro que não. Estava na superfície e nadou de volta para a beira. Da orla, ele a assistia se afogar, se afogar...com um espanto quase infantil.