sexta-feira, 8 de abril de 2011

Montanha russa e carrossel

Quando veio toda essa história avassaladora de mais um curso, de entrar em arte, eu não pude mensurar direito toda a bagunça eminente. Falha minha, claro, porque no que se refere a mim, nenhuma mudança vem sozinha, nenhum desejo, nenhuma frustração passa discretamente por minha insegurança: eles batem, eu atendo, convido para entrar. Bravos mares e toda espécie de temporal são bem vindos aqui e não. Sentindo-me cada vez menor para sentir-me maior daqui a pouco mais (ou não). Tudo me encanta e assombra, me sinto criança com um velho brinquedo novo, recuperado, redescoberto num porão.

Me apaixono por gente apaixonada pelo que diz. Por gente que gosta de dividir sua história e a história do mundo. Me apaixono por gente como eu e gente diferente, aqui do meu lado e que também tem esse certo amor-pavor por tudo isso.

Redescubro minha cidade quase diariamente. O desejo pelos cafés que nunca chego a tempo de tomar. As frutas que não compro, a leitura vencida pelo sono. Me entrego e, num lamento só meu, desejo folga de todo o resto que me deixa assim, preguiçosa de viver. E fico lá tecendo minhas angústias num bar onde a Jukebox me canta que Roberto está “guardando o que há de bom pra mim”.

Dissertar sobre, estender-me em palavras para quem não conheço [mas que já tem seus desejos e apostas prontos]. Medo, grito por socorro. Um me diz que é sono, o outros me receitam coisas, outros acham que ando me cuidando mal.

Falam atrás de mim algum assunto que já perdi na esquina anterior, descarrilhei dos amigos de trajeto e de desesperos. Desço todo dia pensando em comprar flores na Otávio Rocha, rosas grandalhonas que façam companhia. Rosas amarelas alegres em sua solidão. Levo a mão à bolsa para sentir minha flor pendurada a ela, não posso perdê-la, ela me brilha.

Sigo o trajeto vendo as caras de ontem das pessoas de hoje e tento, disso, fazer novela. Os prédios cinzas, um frio amargo de começo, me irrito, me entristeço, me emburro recostada a primeira janela possível e sigo olhando tudo. As prostitutas seminuas com sua beleza e as mulheres – não muito distantes disso – ali paradas, enfeitadas pra ninguém (?).

São muitas coisas nesse meu caminho, tantas distrações para meus olhos e eu aqui,presa em mim, assustada com um novo mundo. Como uma recém nascida, uma estrangeira.

Decidindo se quero ser a flor intacta e firme na bolsa ou a flor em talo que se mantém bonita o dia todo para amanhecer murcha diante dos olhos da rua.

Foto: Ana Priscila Costa (porta do banheiro do IA)