domingo, 16 de setembro de 2007

Ares de mãe

Penso nessas mulheres
Com rosto de mãe,
Olhar de mãe,
Jeito de mãe:
A nenhuma delas pertenço,
De nenhuma faço parte.
Nenhum desses olhos me vigiam o sono
Ou me acompanham da janela.

Vejo esses gestos de mãe
Que são só beleza
Mesmo dentro do que é conflito,
Do que é pavor,
Mesmo quando tudo é ira e ignorância.
E, não me pergunte como,
Mas conheço seus mais fugidios pensamentos.

E numa espécie de choro
Me desfaço
Quando passo na rua e me deparo
Com essas mães sempre dos outros,
Nunca minha.
Esses perfumes de mãe que não mepertencem,
O cantarolar que não me alcança os ouvidos...
Mas sigo e sorrio por dentro ao lembrar
Que essa beleza que me encanta
Um dia será minha.

segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Bela acordecida


Tens razão.
Que faço eu com esta idade,
Com esta dita beleza,
Numa noite destas, aqui,
No alto deste castelo, acordada?
Eu deveria estar na rua
Nem que fosse a vagar
À procura de coisa qualquer,
Enredada nuns braços...
Ou quem sabe dormindo o sono dos justos,
Sono de bela adormecida.
Do contrário, com a luz acesa sobre a cara branca,
Tenho a insônia da donzela arrependida,
Da morte da bezerra...
A insonia do alcólatra ao redor de um copo de uísque.
Tens razão.
Que faço eu de mim?
Que coisa é esta que sou?
Fruta caída de alguma árvore
Que nem um andarilho vê.

sábado, 8 de setembro de 2007

secreto

Fico me espiando nua pela fresta que eu mesma deixei;
Uma fresta pela qual só eu, acho, consigo espiar.
Tão bonita minha nudez assim...limpa de qualquer preocupação,
Livre de qualquer castigo, de qualquer pudor de coisas a perder.
E essa nudez, a verdadeira, nunca ninguém viu.
Talvez quase escape por meus olhos semi-cerrados espiando, fotografando o instante móvel...difícil. Quase.
E na embiaguês, mas do que sempre: espiar...espiar...
Por que tanto? Como não canso?
Por que assim, de cima a baixo? De trás pra diante?
Pelas costas, traindo a sinceridade o olho no olho...
O dia é assustadoramente veloz e cru
Só a noite me permite espiar.